Monday, March 03, 2008

 
A MUDANÇA


Aparentemente volta a dar-se uma mudança na maré deste campeonato tão competitivo. Depois de uma primeira sequência de jogos em que foi o Força Bruta a equipa dominadora, e depois de uma fantástica recuperação do Mânfios FC, eis que voltamos a assistir a um renascimento dos brutenses. Um renascimento não só traduzido em duas vitórias consecutivas, mas também no incremento de uma qualidade futebolística que andava arredada escondida algures no balneário da veterana equipa.
No passado Sábado venceram os manfiosos por um 10-4 que, não sendo exactamente o espelho real dos acontecimentos, acaba por se aceitar sem discussão. Foi um jogo algo atípico e que alternou momentos brilhantes com outros menos bem conseguidos, mas que no fundo foi um embate interessante e emotivo.

Começou mal para o lado dos brutenses, que em poucos minutos sofreram dois golos bastante consentidos. O primeiro, um verdadeiro frango de Aranhiço. Um lance aparentemente inofensivo e que acabou por resultar no tento inaugural por única e exclusiva responsabilidade de uma guardião que raramente permite este tipo de veleidades. O segundo, uma falha descomunal de Paulo, que depois de ter roubado a bola a Simão, demorou uma eternidade no atraso do esférico para o seu guarda-redes. Simão não se fez rogado e voltou a recuperar a bola, que rematou de imediato para o fundo da baliza brutense. Simão foi, aliás, o principal impulsionador do ataque da sua equipa, e durante largos minutos foi mesmo o melhor jogador em campo. Facto que não se haveria de manter por muito tempo, já que o jovem futebolista, visivelmente deslumbrado com a sua própria exibição, viria a cair inúmeras vezes no exagero e num egoísmo que em nada se coaduna com a habitual forma de jogar dos seus colegas. Simão acabou por hipotecar várias boas oportunidades de golo, e terminou o jogo praticamente na obscuridade.

Enquanto isso, Sotor parecia querer regressar ao seu habitual bom nível. Lutou com unhas e dentes contra os atacantes adversários, roubou bolas ao meio campo e contribuiu decisivamente para a manobra ofensiva da sua equipa, coadjuvando Carlos de forma aguerrida e inteligente. Em suma, foi nele que começou o inteligente jogo do FB. De resto, e à excepção de Bruno – absolutamente desastrosa, a exibição do jovem ponta de lança -, todos os jogadores brutenses estiveram à altura dos acontecimentos. Paulo, depois de um mau início, foi o defensor implacável do costume, e levou por várias vezes perigo à baliza de Rodrigues. Um dos muitos lances de ataque que ajudou a construir, resultou mesmo num dos golos mais bonitos do encontro. Aranhiço – depois de mais uma fantástica defesa – serviu imediatamente Paulo que, encostado à lateral esquerda do campo, precisou apenas de dois toques para centrar a bola para a grande área manfiosa. Carlos, no sítio certo e no momento exacto, deu o único seguimento possível à rápida e bela jogada dos seus colegas, introduzindo o esférico, de cabeça e sem demoras, na baliza adversária.
De resto, Jorge foi como sempre o jogador voluntarioso e abnegado que se conhece, oferecendo o corpo à luta, e jogando sempre para o colectivo, e Aranhiço foi somente o melhor em campo; se é verdade que o resultado é justo e inquestionável, por outro é também verdade que foi o MFC a equipa mais rematadora. Ou seja, Aranhiço teve trabalho redobrado, e foi um dos responsáveis pela vitória da sua equipa. Defendeu com a ponta dos dedos um remate traiçoeiro de Huga, para, somente alguns minutos depois, voltar a dizer “não” a um livre magistralmente apontado pelo mesmo jogador. Desviou do ângulo superior esquerdo uma potente bomba de Golias, e efectuou um sem número de defesas de recurso, negando golos mais do que certos. Brilhante!

No MFC, e apesar da boa réplica, algo de facto não correu como de costume. A começar pela táctica. Alinhando sem Huga e Chica – este último no banco, mas afastado da titularidade por alguns problemas do foro psicológico - , cabia a João a responsabilidade de organizar o jogo atacante e ao mesmo tempo de servir da melhor forma possível o seu avançado. A táctica rapidamente acusou os seus pontos fracos, já que o meio campo ofensivo manfioso claramente não tinha argumentos para contraria a organização brutense, e a defesa, sem o auxílio precioso do mesmo João, claudicava a todos os níveis. A entrada de Huga – por troca com Finíssimo - veio colmatar algumas falhas na construção do jogo, mas pouco ou nada adiantou no que ao sector mais recuado dizia respeito. Os lances de golo do FB sucediam-se a uma rapidez e com uma facilidade impressionantes, e o desespero começo a tomar conta das jogadas manfiosas. Chica acabaria ainda por entrar em jogo, aportando imediatamente uma classe e uma garra que fizeram os adeptos do FB temer um cenário já sobejamente conhecido. No entanto, o jovem jogador não estaria muito tempo em campo, já que, num lance absolutamente infeliz, viria a contrair uma lesão estúpida e com alguma gravidade: sofreu uma entorse no seu pé direito enquanto corria para retomar a sua posição no eixo da defesa. Sem Chica, voltaram as graves falhas defensivas, e voltou a superioridade brutense, traduzida em três rápidos golos que fechariam a contagem nuns expressivos 10-4.
Os jogadores do MFC claramente não se deram bem com a táctica inadequada escolhida pelo seu treinador, e como tal, homens como Golias e Murta passaram totalmente ao lado da partida, incapazes de se ajustarem ao panorama e ajudarem a sua equipa.

Em jeito de conclusão, pode-se dizer que foi indubitavelmente um bom jogo de futebol, recheado de bons momentos, bonitos lances de futebol, e de emoção e intensidade. Contudo, não se pode dizer que a vitória brutense tenha estado alguma vez ameaçada. Durante todo o encontro, a sua segurança reflectiu-se na facilidade com que desenhava jogadas de perigo e na simplicidade com que resolvia os lances dentro da sua área, obrigando os atacantes contrários a optarem muitas das vezes pelo remate de longe.
E deste embate fica a pergunta: será que o FB se está a preparar para mais uma vez deixar os seus adversários a uma confortável distância? Ou será que os manfiosos vão rapidamente procurar vingar-se destas duas últimas pesadas derrotas?

 
“DESCULPE, PODIA REPETIR!?”

Sem dúvida a questão que todos os que não estiveram presentes no jogo de Sábado repetiram até à exaustão assim que souberam o resultado de mais um encontro entre Mânfios FC e Força Bruta. Porque já há muito anos não se via uma goleada desta dimensão, sendo necessário recuar até à temporada de 65-66 para recordar um resultado idêntico entre os dois arqui-inimigos – na altura um expressivo 9-2 para o MFC e que tornaria famosas as palavras do então treinador brutense, Óscar Piça, quando vociferou “havemos de nos vingar, caralho!” – isto, obviamente, no que diz respeito aos jogos no campo grande, já que a 21 de Janeiro último, o FB bateu o seu rival por uns claros 10-2 mas no campo pequeno.

Tardou a vingança, mas veio de forma justa e inquestionável, já que a diferença esmagadora entre as duas equipas foi notória. Ninguém presente no estádio – jogadores inclusive – ousou sequer questionar a vitória dos homens do FB, que ao marcarem dez golos e permitindo apenas um tento adversário, deram uma valente chapada na crise que se vinha instalando. Foi surpreendente, é um facto, mas completamente justo.

E não chega sequer a ser complicado explicar a razão que levou a uma tão monstruosa diferença. A simples inclusão de Tiago, regressado de um novo período de lesões, foi determinante para o triunfo brutense, e veio colmatar todas aquelas falhas clamorosas que vinham manietando o futebol do FB. O jogador maravilhou o público presente no estádio, e assinou uma das mais bem conseguidas actuações de entre todas as da presente temporada. Começou o encontro como centro campista, mas apercebendo-se da apatia dos jogadores manfiosos e da falta que fazia junto a Carlos, resolveu auxiliá-lo no ataque à baliza manfiosa, na tentativa de apressar o primeiro golo, que tardava a surgir. E o resultado foi quase imediato. Num canto bem marcado por Miguel, e depois de ter sido rematada por Sotor contra as pernas de um defesa, a bola foi novamente enviada para o miolo da área pelo veterano jogador. Tiago, oportuno, desviou o esférico com o calcanhar, introduzindo-o no fundo das redes defendidas por Rodrigues. Os jogadores manfiosos ainda conseguiram a dada altura reduzir o resultado para 1-2, mas a reacção foi sol de pouca dura, já que durante todo o encontro – e muito por responsabilidade da eficaz dupla de centrais brutenses - praticamente não efectuaram remates à baliza de Aranhiço. Quando o fizeram criaram perigo, mas o experiente guardião soube sempre e com segurança impedir que o pior acontecesse. Tiago, pelo seu lado, continuava a fazer o que queria da defesa contrária. De tal forma que, dos dez golos com que o FB terminou o jogo, marcou dois e fez a assistência para outros sete! Estava endiabrado o jovem avançado, e coadjuvado por Miguel dominou por completo o centro do terreno, ao mesmo tempo que era responsável por jogadas de belíssimo futebol. Numa delas os dois jogadores correram o campo de um lado ao outro com passes rasgados, de Tiago para Miguel, e de Miguel novamente para Tiago. Já na grande área, Miguel faria o último passe – um fantástico centro de trivela – para Tiago que, bem juntinho ao segundo poste, introduziria a bola pela segunda vez na baliza de Rodrigues. Sem exageros, poder-se-á dizer que Tiago foi deslumbrantemente efectivo, pontuando sempre as suas jogadas com uma beleza coreografada mas sem nunca perder o pragmatismo exigido.
Sotor, esse, voltou a desiludir, e fez o seu segundo jogo absolutamente desastroso do ano. Inexplicavelmente o experientíssimo jogador apresentou-se desconcentrado e desenquadrado das movimentações da sua equipa. Voltou a falhar por completo a sua função de primeiro defesa e foi permeável aos avanços adversários pelo seu lado do campo. Foi lento na resolução de situações nem sempre perigosas, indeciso no momento de fazer o primeiro passe – voltou a pecar pela constante procura de Carlos para receptor do esférico, mesmo em ocasiões em que outros colegas seus estavam em perfeitas condições para partirem para o ataque – e em consequência disso, perdeu uma quantidade inacreditável de bolas em zonas potencialmente letais. Felizmente a equipa estava à altura dos acontecimentos e soube colmatar a falta que Sotor poderia ter eventualmente feito. É conhecida a sua manha e experiência, e essas ferramentas são sempre úteis quando se defrontam equipas jovens como a do MFC. Aguarda-se um rápido regresso de Sotor à sua habitual forma. Os colegas agradecem e o público mais atento também.

Pelo lado dos manfiosos pouco ou nada há realmente a dizer. Sem se perceber bem porquê, os atletas do MFC foram exactamente o oposto do que costumam ser. Lentos, desorganizados e completamente inofensivos, não executaram uma única jogada do que se usa considerar futebol, não conseguiram defender os avançados brutenses em nenhuma ocasião, e esqueceram-se por completo daquele verdadeiro bombardeamento à baliza adversária que já se tornou na sua imagem de marca. Foram irreconhecíveis. A ter de escolher um jogador do MFC como sendo o… menos mau, esse teria de ser obrigatoriamente Murta; pelo que trabalhou na defesa, muitas das vezes totalmente abandonado pelos colegas, e pela garra e inconformismo que demonstrou sempre durante a partida. João marcou o golo de honra e desapareceu; Huga fez muito barulho, reclamou muito mas foi totalmente improdutivo, tendo inclusive permitido a defesa de um penalti – bem, Aranhiço -, e não foi nunca o líder inspirador dos dois últimos jogos; de resto, basta dizer que Chica não fez um único remate à baliza, que Golias atrapalhou mais do que ajudou, que Bruno e Barandas bem que podiam ter ficado em casa – teriam ajudado bem mais a sua equipa - e que Rodrigues nada podia fazer para impedir o rumo implacável dos acontecimentos. O MFC deixou uma triste e desoladora imagem de si, e embora tenha ficado a certeza de que foi só um acidente de percurso, e de que de facto não foi somente o fantástico desempenho de Tiago a impor tamanha desigualdade de valores, a verdade é que ficou também a imagem muito forte de um conjunto de jogadores que nem sempre conseguem conjugar a força física com a força anímica. Se por um lado já por várias vezes foram capazes de inverter o rumo dos acontecimentos e acabar os jogos na posição de vencedores, por outro demonstraram uma enorme falta de calma que originou inúmeras discussões entre colegas da mesma equipa.

Nesta altura do campeonato, e depois de duas fases tão distintas do mesmo – cada uma dominada por uma das duas equipas candidatas ao titulo -, seguidas por três jogos em que imperou o equilíbrio, convém fazer uma espécie de ponto de situação. Assim, parece-nos claro que o FB só conseguirá realmente fazer frente ao maior poderio físico e atlético dos jogadores do MFC se puder contar de forma mais constante com os préstimos de Joel e Tiago. Porque, por um lado, os dois gémeos têm a técnica necessária para executar com mais facilidade aquilo que tantas vezes condiciona o jogo ofensivo brutense: uma rápida transição da defesa para a frente do ataque. Por outro, porque Joel já provou ser o defesa que a dupla de centrais necessita para fazer da sua área um espaço intransponível. Os dois jogos em que se aplicou nas manobras mais recuadas da sua equipa, mostraram claramente a forma inegável como impõe a sua presença física no centro da área de Aranhiço, dando a calma de que Jorge e Paulo necessitam para se manterem nas laterais e poderem arriscar jogadas de contra-ataque. Aguarda-se também com ansiedade o regresso de Sotor ao seu nível habitual, já que o meio campo defensivo do FB carece de alguém que saiba fazer aquela falta no momento chave, ou o roubo de bola acutilante e venenoso. Sotor fazia-o como ninguém nesta liga, e o seu «desaparecimento» não só criou problemas à equipa, como deixou a defesa com trabalho redobrado.

Quanto ao MFC, até aqui e nas mais recentes jornadas, a equipa mais tranquila das duas que disputam o título, dele se espera que readquira a organização e disciplina que têm ficado bem patentes nos jogos desta segunda fase do campeonato. Jogadores como João e Huga, que surgiram novamente em plano de evidência, têm sido os dínamos que impulsionam o colectivo para a frente e que imprimem ao jogo da sua equipa uma velocidade e uma garra verdadeiramente assustadoras. Falta juntar-se a eles Chica, que depois de um início de época perfeitamente brilhante, se tem vindo a afundar, vítima de uma súbita quebra de qualidade. O jogador tem-se remetido cada vez mais a tarefas defensivas – onde se sai sempre muito bem -, mas é na frente do ataque que ele mais tem feito falta. Dono de um potente e temível remate, Chica tarda cada vez mais em colocá-lo em prática, contribuindo dessa forma, para que os golos do MFC surjam com mais frequência. É curioso pensar que até há bem pouco tempo, dois dos jogadores em melhor forma - e que disputavam inclusive o título de melhor jogador do ano - Chica e João, são neste momento dois dos que menos se destacam no campeonato.

Neste momento, a classificação do campeonato é a seguinte:

MFC – 15 vitórias, 5 derrotas e 3 empates, que perfazem 45 pontos e 121 golos marcados e 140 sofridos.

FB – 15 vitórias, 5 derrotas e 3 empates, perfazendo dessa forma os mesmos 45 pontos mas com 140 golos marcados e 121 sofridos.

Ou seja, o FB volta a ocupar a primeira posição do campeonato, pelo que muito se espera do embate da próxima semana, especialmente se tivermos em conta que Tiago, afectado por uma pequena lesão, e Chica, afastado da convocatória por motivos psicológicos, não poderão dar o seu contributo.

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