Tuesday, October 28, 2008

 
CASO SÉRIO


O título desta crónica podia ser outro bem mais forte e violento. O jogo de Sábado passado foi uma verdadeira avalanche para os do Mânfios FC. Não é todos os dias que se vê uma tamanha diferença entre as duas equipas. Essa diferença saldou-se por um resultado final esmagador, e que, apesar dos 10-1 que servem para comprovar as facilidades concedidas aos brutenses, não demonstram inteiramente o que se passou dentro do rectângulo de jogo. O jogo foi construído pelo total mérito de Sotor e seus discípulos, mas também pelo terrível demérito de uma equipa que, apesar de ter começado muito bem a partida, não conseguiu manter o nível do seu futebol e demonstrou ter muitas mais fragilidades do que aquilo que se podia prever.

E o MFC até fez alinhar a quase totalidade dos seus habituais jogadores. Rodrigues, Chica, João, Huga, Golias, Filipe, Bruno e Barandas davam todas as garantias aos seus adeptos de que desta vez a coisa não seria tão fácil como nos últimos encontros com o FB. E a comprová-lo estão os primeiros quinze minutos de jogo, um período de tempo em que o MFC foi dono e senhor dos acontecimentos e em que não deu quaisquer hipóteses aos brutenses de demonstrarem o seu melhor futebol. A solidez defensiva e a facilidade com que se aproximavam da baliza contrária, deixava a impressão de que o jogo podia pender sem surpresas para a equipa da casa. Tal não se concretizou.

Jogando com Sotor, Carlos, Paulo, George, Aranhiço, Simão e os brasileiros Júlio e Iuri, a equipa brutense conseguiu ultrapassar as dificuldades iniciais – provocadas unicamente pela inadaptação do conjunto a uma táctica e a jogadores pouco costumeiros – e conseguiu fazer um jogo a roçar a perfeição. Para ter uma ideia, os dez golos marcados sucederam-se em menos de uma hora, facto que só demonstra a avassaladora força atacante do FB. Simão fez o jogo da sua vida, e foi ele o primeiro a dar mostras de que queria rapidamente limpara a imagem desses tais quinze minutos iniciais. Maduro, consciente do que era preciso fazer, Simão vestiu a pele do puro nº 10, distribuindo jogo, recuperando bolas ainda na defesa contrária, e estando praticamente em todas as jogadas que culminaram em golo. Acrescentou três à sua conta pessoal, e foi, sem dúvida alguma, o melhor em campo. Carlos foi o melhor marcador, com quatro tentos, e ultrapassou o seu colega Paulo na tabela dos melhores do campeonato. Fez um jogo também ele exemplar, demonstrando um sentido posicional perfeito, esforçando-se na luta pela posse da bola e estilhaçando por completo a defesa contrária. Fez um jogo à Carlos, e voltou a ser o ponta de lança de outrora. Sotor, Iuri e Júlio iniciaram a partida de uma forma atabalhoada e desorganizada, atrapalhando-se e perdendo a bola vezes de mais. Aos poucos, e muito por culpa de Simão, começaram a definir melhor as suas posições, e deram início a um verdadeiro festival de troca de esférico. Deslumbraram o público e confundiram os adversários. De tal forma que a partir dos quinze minutos, poucas foram as jogadas com algum nexo da parte do MFC, e poucos foram os minutos de posse de bola. As escassas tentativas de ataque perpetradas foram facilmente anuladas por Paulo e George, e mesmo Aranhiço foi praticamente um espectador entediado. Tudo corria bem aos brutenses. Passes, desmarcações, remates à baliza. Os golos surgiam de forma demasiado fácil, e alguns bastante espectaculares, diga-se. Um deles, apontado por Júlio, é já o melhor da actual temporada. Carlos fez um passe bombeado para a entrada da área, onde o brasileiro, descaído na direita, esperou que ela batesse uma vez no solo para de imediato executar um poderoso remate à meia volta. A bola encaixou-se junto ao poste mais longe da baliza de Rodrigues, impotente para fazer fosse o que fosse. Foi apenas o quinto golo brutense, mas serviu como a afirmação indesmentível de que o jogo já não mais penderia para o lado manfioso.

Individualmente pouco ou nada há a dizer dos jogadores do MFC. Chica voltou a não arriscar o que sabe e pode fazer, quase não rematou à baliza e foi praticamente espectador das rápidas e imparáveis jogadas brutenses. Como espectador foi Golias. Recentemente regressado de uma lesão, o potente e versátil jogador limitou-se a destruir as jogadas brutenses desenroladas na sua área de acção. Foi impedido de participar nas acções atacantes da sua equipa – onde costuma ser preponderante – e não fez um único remate à baliza de Aranhiço. Huga, Bruno e Barandas estiveram quase todo o jogo ausentes de qualquer decisão, e contribuíram decisivamente para a confusão generalizada que foi o futebol manfioso. Apenas Filipe se mostrou esclarecido e com vontade de lutar sempre contra a maré do jogo. Marcou um belo golo, e continua a ser o melhor jogador manfioso da temporada.

Portanto, o caso sério do título é tão somente transformação profunda sofrida pela equipa do Mânfios, que perdeu, de um momento para o outro, todos os seus atributos. Poderá o leitor teorizar acerca da falta que um jogador como Murta faz a qualquer equipa do campeonato. Não há jogador tão voluntarioso quanto o implacável central manfioso, que sabe como ninguém compensar uma evidente falta de técnica individual com um esforço redobrado, e com uma força guerreira que não parece ter fim. A lesão que o tem apoquentado, traduz-se directamente nas quatro derrotas sofridas pela sua formação, mas não serve para explicar a inegável perda de qualidade, sensatez e de esclarecimento que os seus atletas tão fortemente denunciam. A situação actual permite ao escriba arriscar a previsão de um campeonato fácil para os brutenses. Contudo, a verdade é que somente se jogaram cinco partidas de uma temporada longa, e que muito tem ainda para dar.
Os fãs do melhor futebol desesperam por um equilíbrio na tabela, espelhada em verdadeiros combates, bem disputados e com resultado incerto. Se isso não se verificar, resta a todos os espectadores o exercício de puro sadismo que é ver até que ponto podem os manfiosos continuarem a ser humilhados.

A diferença na tabela classificativa é já de 12 pontos, e os três melhores marcadores do campeonato são todos eles brutenses. No entanto, também a época passada começou desta forma, desnivelada e com uma forte predominância da equipa de Sotor. A facilidade não era a mesma, porém, e os encontros eram disputados até ao último golo. As coisas mudaram radicalmente, e parece não haver uma explicação definitiva sobre o que se terá passado no balneário manfioso.
Como sempre, continuamos sempre à espera da próxima jornada, na esperança de que se possa observar algum tipo de mudança. O campeonato ganhava com isso, e todos os fãs de futebol também.

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