Thursday, October 16, 2008

 
E ao quarto jogo ficou evidente a certeza de que este campeonato vai ser marcado pelas contradições que caracterizam cada uma das equipas envolvidas.
O MFC é claramente uma formação de ataque, possante, atlética, de jogadores rápidos e que não têm dificuldades em marcar golos. No entanto, a equipa apresenta sérias dificuldades de concentração, que acabam invariavelmente por interferir na organização de jogo, e que impedem os jogadores manfiosos de se exibirem de uma forma equilibrada e constante.
O FB apresenta uma experiência e maturidade que fazem toda a diferença, e que se manifestam principalmente na forma calma e segura como abordam cada jogo e numa defesa temível e à prova de bala. O seu futebol é bem desenhado, e evolui no relvado com aparente facilidade e organização. Contudo, é precisamente pela defesa que as coisas mais se têm complicado. A equipa é capaz de ganhar um jogo graças ao trabalho irrepreensível de Paulo, George e Aranhiço, e nesse mesmo jogo sofrer inúmeros golos em consequência de erros defensivos infantis.
Estas características têm sido uma constante neste início de temporada, e o último jogo foi precisamente um óptimo exemplo disso mesmo.

Começou rápido, o embate entre os dois colossos do campeonato, com golos sucessivos e alternância constante no marcador. Adiantou-se a equipa do MFC que, alinhando com Huga, Chica, Filipe, Barandas e Rodrigues, rapidamente conseguiram o primeiro tento. A resposta brutense, que começou o jogo com Bruno, Carlos, Sotor, Paulo, George e Aranhiço, foi imediata, e o andamento do marcador foi equilibrado até ao empate a três golos. Nessa altura, e precisamente por causa da tal desorganização manfiosa, os brutenses conseguiram uma confortável vantagem de dois golos. Vantagem essa que não resistiria muito tempo, já que o MFC, liderado por um Huga menos inspirado que em outras ocasiões, mas sempre intenso, conseguiu empatar novamente e relançar alguma emoção num jogo que ameaçava ter um fim rápido e demasiado fácil. Convém nesta altura fazer um ponto de ordem, e explicar que ambas as equipas jogavam de forma completamente diferente. O FB chegava com relativa facilidade à baliza de Rodrigues, mas as ocasiões de golo eram sucessivamente desperdiçadas pelos seus atacantes - Bruno esteve, neste ponto, particularmente infeliz, o que é de certa forma consentâneo com um péssimo início de época -, e a defesa jogava de forma harmoniosa e esforçada, não dando espaço aos avanços manfiosos, e bloqueando muitas das tentativas de remate. Enquanto isso, o MFC precipitava-se em más decisões e aparentava um certo descontrolo emocional; os jogadores não se entendiam, não conseguiam assumir uma posição no rectângulo de jogo e começavam a denotar algum cansaço físico. Porém, a potência manfiosa é realmente algo de impressionante, e com o resultado empatado a cinco tentos, os manfiosos conseguiram aproveitar os tais erros defensivos do FB – e algum nervosismo despropositado – para conseguirem dois golos sucessivos e aproximarem-se daquilo que seria uma vitória importante. Mas as coisas nem sempre são assim tão fáceis, especialmente quando estamos a falar de duas equipas com tanta qualidade e que apresentam inúmeras soluções. O FB voltou a empatar a contenda, graças ao magnífico jogo de Paulo e Carlos, e a emoção e incerteza no resultado mantiveram-se, para gáudio dos adeptos de ambos os emblemas. O oitavo golo do MFC foi também o seu canto do cisne. A partir daí o jogo foi dos brutenses, que dispuseram de inúmeras oportunidades de golo, e que assumiram de uma vez por todas, e sem dar margem a dúvidas, que aquele jogo seria deles e não do seu adversário. Carregaram sobre a defesa manfiosa, pressionando de forma sufocante o seu gaurdião, e isto sem nunca perderem a cabeça; sem uma grama de precipitação ou de desorganização. Esta é a verdadeira arma brutense, a frieza que, em situações difíceis, lhes permite manter o seu futebol apoiado e bem alicerçado.
Foi com naturalidade que conseguiram três golos sem resposta, vencendo mais uma partida e enviando uma forte e ameaçadora mensagem aos seus rivais: este campeonato pode ficar decidido no fim da primeira volta.

Há, contudo, alguns pormenores que merecem ser destacados, e que servem para explicar mais um desaire manfioso. Nomeadamente a falta de tantos jogadores importantes na equipa, e que costumam ser predominantes para a manutenção de um estilo de jogo forte e opressor. Qualquer equipa do mundo que alinhe sem Golias, Murta e João, é à partida uma equipa fragilizada. Exemplo dessa fragilidade é a forma como o jogo de Chica, por exemplo, sofre tanto com a falta dos colegas. Impossibilitado de atacar como sabe e bem, o jovem médio remete-se à defesa, e não colabora, como dele era esperado, no ataque à baliza contrária. Chica marcou aquele que é o seu primeiro golo neste campeonato, o que é manifestamente pouco para um atleta da sua qualidade. Visivelmente cansado, Chica não consegue acompanhar os seus colegas nos ataques planeados e muito menos nos contra-ataques; remata pouco ou quase nada, e exagera nos passes à entrada da área, zona do campo onde é um dos mais perigosos jogadores do campeonato. Huga, que começou a temporada de forma impressionante, começa lentamente a cair nos mesmos erros da época passada. Mantém o seu estilo de jogo tão característico, sempre de cabeça levantada, sempre atento e observador, mas perdeu já algum esclarecimento no momento de rematar à baliza, e entra em picardias desnecessárias com os adversários e inclusive com os colegas de equipa. Começou bem este encontro e marcou aquele que é, até ver, o mais belo golo deste campeonato. Bruno está a fazer um início de temporada literalmente para esquecer. Remata mal, esquece-se de que existem mais jogadores em campo, e apresenta uma forma física que não é condizente com a sua juventude. Barandas, por sua vez, tem uma inegável vontade de vencer, não sabe é o que fazer com ela. Joga em todo o lado, remata de todo o lado, esquece-se de defender, e ainda não está em forma para um campeonato tão exigente. Ninguém desconfia das suas verdadeiras capacidades, mas a verdade é que ainda faltam alguns quilómetros para que Barandas possa estar ao nível dos seus colegas. Em boa forma estão Rodrigues e Filipe. O veterano guardião parece ter regressado à sua melhor forma, e tem feito exibições de encher o olho. Foi, durante largos minutos, o salva-vidas do MFC, impedindo um sem número de golos fáceis. A Filipe fizeram-lhe bem as férias. Mais maduro, o avançado tem conseguido evitar aqueles erros do passado e está visivelmente mais ponderado e mais adulto. Marca bons golos, e apresenta um invulgar sentido posicional.

Quanto ao FB, é evidente o seu actual estado de graça. Os jogadores estão entrosados, relaxados, e denotam uma forte ligação táctica. Pese embora alguns erros defensivos – que surgem principalmente de um incerto posicionamento no centro do campo -, a verdade é que parecem, para já, imbatíveis. Paulo está a fazer a melhor época da sua carreira. Sem nunca se esquecer da sua verdadeira função de central, o poderoso jogador descobriu uma veia goleadora indesmentível, e lidera destacado a tabela dos melhores marcadores com uns impressionantes dez golos em quatro jogos – só neste jogo apontou quatro golos. Para além disso, Paulo demonstra uma magnífica disciplina táctica, uma forma física invejável, marca golos dignos do melhor dos avançados, e ainda consegue defender como sempre o fez e sem recorrer à falta, característica que durante anos o definiu de forma inegável. Sotor, esse, tem vindo a decair, e já há dois jogos que não consegue atingir o nível dos dois primeiros embates. Perdido no rectângulo de jogo, o veterano capitão não só não consegue chegar a todas as bolas nem combater todos os seus adversários, como ainda se esgota fisicamente. Ou seja, não ajuda a sua equipa e cria espaços demasiado perigosos no seu meio campo. São esses espaços que muitas vezes dão a oportunidade aos atacantes manfiosos de conseguirem golos fáceis. Carlos começa aos poucos a ser o terrível avançado que se conhece. Já recuperou alguma da sua velocidade e potência, pelo que os próximos embates serão determinantes para se saber com certeza se vamos ou não ter o Carlos de sempre neste campeonato. Para já partilha o segundo lugar da lista de marcadores com Huga; será que tem capacidade de lutar pelo primeiro? De Aranhiço pouco há a dizer. Tem feito uma época practicamente irrepreensível, quase isenta de erros, e continua a ser o primeiro vértice de um triângulo defensivo de luxo. É nele que muitas das vezes se iniciam os ataque brutenses, já que continua a apresentar uma maravilhosa visão de jogo, e uma extraordinária rapidez na reposição do esférico. Quanto a Geroge, a única coisa que se pode dizer é que é o melhor jogador deste início de época. É o melhor defesa do campeonato, duro, técnica e tacticamente impressionante, com um sentido de posicionamente uma rapidez de antecipação absolutamente brilhantes. É ele o motor do FB, e o jogador que mais contribuiu para as três vitórias consecutivas do seu clube.

Aguarda-se desde já, e pelas razões aqui tornadas evidentes, a próxima jornada deste campeonato. A curiosidade relativamente ao real momento de forma da equipa do MFC cresce a cada desaire, e começa a desenvolver-se a teoria de que este belo conjunto de jovens atletas está ainda longe da maturidade necessária para se ser campeão. Se assim for, esta temporada pode, mais uma vez, ficar decididamente desequilibrada ainda antes do fim da primeira volta. A época passada começou da mesma forma, e a verdade é que a dada altura os manfiosos foram capazes de dar a volta aos acontecimentos. Será que estamos a assistir ao mesmo filme. Será que vai acabar esta onda de ausências forçadas que tanto tem prejudicado o MFC? Perguntas que poderão (ou não) ter resposta já no próximo jogo.

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