Thursday, December 27, 2007

 
Caros amigos
Nuno "aranhiço" Matos trás-nos mais uma vez, aliado do seu já habitual domínio sublime da arte de manejar e moldar as palavras, a crónica poética e heroica dos mais recentes encontros (15/12 e 22/12).

Dia 15 Novos valores, velhos hábitos Manhã fria, estádio cheio, e mais um jogo do campeonato recheado de bons motivos de crónica.A curiosidade em torno do bom futebol que vinha sendo practicado pela equipa do Mânfios FC - e consequentemente da recuperação no campeonato, que dava uma renovada esperança aos seus adeptos – envolvia este novo encontro de um especial interesse, e a verdade é que quem se deslocou ao estádio e suportou o terrível frio que se fazia sentir, viu satisfeitas as suas mais exigentes expectativas. Foi um bom jogo de futebol, emocionante e espectacular, como se deseja, e que deu ao mundo da modalidade duas novas estrelas: Júlio “Bocagrande” e João “Marroquino”. A equipa do MFC alinhava com Paulo e Aranhiço – habitualmente jogadores do FB -, Barandas, Filipe “Finíssimo”, João, Hugo 2 e João “Marroquino”, os dois últimos a tentar a sua entrada neste duro campeonato. Do outro lado, uma equipa do FB completamente diferente do habitual, quase sem nenhum dos seus habituais titulares, e apresentando uma estrutura radicalmente alterada, dando resposta às dificuldades provocadas por tamanha alteração. Assim sendo, jogaram Sotor, Carlos, Gonçalo – o mais jovem jogador do campeonato – Pai de Gonçalo, Júlio “Bocagrande”, Totó, Cocó e Miguel. O jogo começou de forma rápida e assustadoramente eficaz para os lados do MFC. Os golos chegavam aparentemente de modo simples e sem grande esforço, e a equipa contrária parecia nitidamente incapaz de dar a volta ao sentido do jogo. Carlos parecia não ter sequer entrado em campo, os jogadores novos mostravam claramente porque não são utilizados, e só o veterano Sotor, apercebendo-se das incapacidades dos seus colegas, aparecia em figura de destaque, defendendo conforme podia. Completamente desapoiado, Sotor teve de se esgotar quase por completo, correndo das laterais para o meio do terreno de jogo, subindo até à posição de trinco sempre que necessário, roubando bolas, interceptando jogadas de ataque, e fazendo muitas das vezes de central, posição a que não está obviamente habituado. Mesmo assim, espalhou a sua verdadeira classe e garra pelo campo, dando uma verdadeira lição de entrega e de liderança. Infelizmente, o seu esforço morria na linha de meio campo, já que nenhum dos restantes jogadores do FB parecia saber como dar continuidade ao jogo se Sotor.Enquanto isso, o MFC passeava, não a sua classe, porque em verdade se diga, não estava a jogar particularmente bem, mas sim a sua efectividade. A dada altura do encontro, cada jogada de ataque resultava num golo fácil, e foi dessa forma, e sem qualquer tipo de espanto, que o resultado rapidamente explodiu num 7-1 humilhante para os da casa. Aranhiço via-se obrigado a fazer exercícios de aquecimento, já que durante uma boa meia hora não viu sequer a ameaça de um remate à sua baliza, João fazia o que queria da defesa contrária, e Paulo, sempre seguro, contrariava sem dificuldade todo e qualquer tipo de tentativa de aproximação do meio campo adversário. E depois havia João “Marroquino”. Nunca, como naquele Sábado, se havia visto um jogador de tão elevada qualidade nos campos deste campeonato. Seguro na defesa – não perdeu uma única bola -, efectivo e sempre perigoso no ataque, quer através de passes em profundidade, quer através de venenosos remates à baliza, “Marroquino” parecia estar em todo o lado. De tal forma, que assim que passou a jogar pela equipa do FB, a diferença no marcador encurtou-se rapidamente, e o MFC desapareceu quase que por completo do rectângulo de jogo. Antes disso, havia também de despontar um outro valor acima da média, Júlio “Bocagrande”. O brasileiro nem sempre conseguiu mostrar o seu real valor, mas a verdade é que foi dos seus pés que saíram as jogadas que deram início à fantástica recuperação do FB. Por duas vezes conseguiu fintar quase a equipa toda do MFC, e numa delas haveria mesmo de marcar um bonito golo. Júlio provou ser um jogador de uma técnica individual acima da média, de finta rápida e curta, e muito difícil de parar. Ele e “Marroquino” fizeram, a dada altura, uma dupla temível e imparável, e mesmo jogando practicamente sozinhos, chegaram para dar conta de um MFC já cansado e sem ideias.Quanto aos restantes jogadores, nada de especial a acrescentar. Hugo 2, apesar da sua boa vontade e generosidade, não veio acrescentar nada ao futebol do MFC, e do lado do FB, só Miguel deu mostras de poder vir a dar frutos nesta liga. É um jogador seguro, que não se perde em fintas inúteis, e que joga sempre pelo colectivo, sem egoísmos de qualquer espécie. É excelente na transição da defesa para o ataque, não se coibindo, por vezes, de ensaiar o seu poderoso e colocado remate. O resultado final, 9-8 para os MFC, sabe um pouquinho a injustiça. Pelo que a equipa do FB fez na segunda parte, e nomeadamente pelo esforço de Sotor, quer-nos parecer que o empate seria o mais justo, e serviria como o prémio digno para três jogadores – Sotor, Júlio e “Marroquino”.Em suma, mesmo não sendo um jogo particularmente emotivo ou espectacular, foi interessante o suficiente para manter o público animado e participativo. Serviu para provar que o campeonato está mais vivo do que nunca, e que decididamente o MFC está no caminho e a passos de gigante da luta pelo título. Dia 22 Jogo nada natalício Foi desde já o jogo mais concorrido do ano, o que se assistiu no último Sábado entre MFC e FB. Nada mais, nada menos, do que dezassete jogadores em campo, 16 golos, num empate que foi uma verdadeira batalha campal, casos polémicos, lesões, tensão e intensidade a roçar os limites e o mais importante: belos lances de belo futebol. Terá sido, por todos estes ingredientes, o mais espectacular jogo da época, o que não significa que tenha sido o mais bem jogado… Passemos desde já à composição das duas equipas:Pelo FB jogaram Aranhiço, Paulo – de regresso à equipa onde costumam alinhar -, os gémeos Joel e Tiago, Barandas, Ukraniano, Sotor, Carlos e Miguel. Pelos visitantes, alinharam Chica – de regresso, depois de uma curta ausência para precaver uma possível lesão -, Bruno, Golias, Huga, Murta, “Nunes”, João e “Finíssimo”. Ou seja, vários jogadores que vinham faltando à convocatória, por uma razão ou outra, alinhavam naquele que era o jogo de Natal deste emocionante campeonato. E talvez por isso mesmo, foi um jogo como já não se via há muito. E começou de forma estranha, com dois golos incomuns e que em escassos três minutos colocavam a equipa do MFC numa vantagem injustificada. Ainda os espectadores não estavam instalados e já Ukraniano tinha marcado um golo na própria baliza. Passado um minuto, e em resultado de uma lance aparentemente resolvido, Aranhiço seria também o responsável pelo segundo golo da equipa adversária. Chutou de forma defeituosa uma bola fácil, que, depois de embater nas partes íntimas de João, e mesmo de um ângulo impossível, haveria de entrar sem defesa possível na baliza à guarda do veterano jogador. A resposta do FB foi, no entanto, imediata, e a pressão sobre a baliza do MFC, absolutamente sufocante. E dessa pressão surgiu o primeiro caso do jogo. Num lance bem desenhado pela esquerda do ataque do FB, teria surgido o primeiro golo da equipa visitada, não fosse a defeituosa intervenção da equipa de arbitragem, dando como fora uma bola que não chegou sequer a pisar a linha lateral do campo. Os protestos de nada adiantaram, e a decisão do árbitro do encontro foi soberana. Mas os homens do FB não se deixaram afectar e carregaram ainda mais sobre a defesa do MFC, que se mostrava insegura e desconexa, não conseguindo, de forma alguma, parar os avanços de Joel, Tiago e principalmente de Carlos. O poderoso atleta mostrou mais uma vez que existem poucos jogadores no campeonato com capacidade física e táctica para o defender convenientemente, e a prová-lo está o seu primeiro golo, uma verdadeira obra-prima do futebol moderno. Joel centrou a bola do lado esquerdo do meio campo, Carlos recebeu-a do lado direito, fez uma diagonal perfeita em direcção ao centro da grande área, rodou no sentido inverso, novamente para direita, deixando para trás o seu defesa, na circunstância, Murta, e rematou de forma imparável e com enorme potência, encaixando a bola junto à trave. Virtualmente indefensável. Ainda antes do golo do empate, Joel levantou o estádio, quanto tentou, para lá do meio campo, um chapéu a João, no que seria um golo portentoso e muito ao jeito do jovem jogador. Jovem jogador, que viria a ser o intérprete de um momento que trouxe á memória dos presentes os piores fantasmas do passado. Após uma entrada de carrinho, tentando cortar uma jogada de ataque do MFC, Joel sentiu-se mal, e teve mesmo de sair das quatro linhas para ser assistido. Queixava-se de problemas (aparentemente) cardíacos, e chegou a ser ponderada a utilização do helicóptero de serviço ao estádio para levar rapidamente o jogador para o hospital mais próximo. Na mesma altura, também Huga se haveria de ausentar da partida, igualmente e supostamente com problemas físicos. No entanto, e ao que o escriba pode apurar no final do jogo, a razão pela paragem temporária de Huga teria sido outra bem diferente. Ao que sabemos, o jogador saiu por alguns minutos do encontro por estar descontente com a fraca prestação dos seus colegas de equipa, atitude que não só lhe fica mal, como não é condizente com o seu espírito aguerrido e lutador. Ainda assim, o jogo decorria a grande nível e com uma boa qualidade futebolística. Qualidade essa, trazida em grande parte pelo esforço da equipa do FB, mas que contava agora com uma dificuldade acrescida: o lado esquerdo estava completamente vazio. A ausência de Joel fazia-se sentir, e de que maneira, e a defesa mais não podia fazer do que remeter todos os lances atacantes para o lado direito, onde Barandas e Tiago acabavam muitas vezes por se atropelar. A intensidade do jogo era elevada, o ritmo avassalador, e o MFC, sentindo que podia arriscar mais um pouco, em virtude da ausência de Joel, começava agora a subir no terreno e a criar algumas dificuldades à defesa do FB. E foi precisamente num lance de contra ataque do MFC que o verniz acabou por estalar. Finíssimo, depois de fintar Ukraniano, deixou a bola transpor a bola a linha de fundo, o lance foi devidamente assinalado pelo árbitro auxiliar e os protestos fizeram-se imediatamente sentir. Esses protestos subiram de tom, alguns jogadores da equipa adversária – nomeadamente Aranhiço e Tiago – decidiram erradamente intervir, e um comentário mais azedo de Finíssimo acabou mesmo por provocar Tiago que, numa atitude irreflectida decidiu trocar-se de razões com o avançado do MFC. A coisa aqueceu, os ânimos exaltaram-se e os jogadores de ambas as formações tiveram mesmo de intervir, de maneira a serenar o ambiente e a impedir que o acidente tivesse consequências mais nefastas. Tudo acabou bem, mas a situação teve um resultado negativo no jogo de Tiago, que por alguns minutos andou alheado da partida. Visivelmente irritado e desconcentrado, foi incapaz de dar continuidade ao excelente jogo que vinha fazendo, cedendo a decisão do ataque da sua equipa a Barandas, Carlos e principalmente a Miguel. O novo reforço, de quem já se tinha ficado com boa impressão no jogo anterior, mostrou ser realmente um valor seguro, e um jogador em quem se pode confiar nos lances de decisão. Joga bem, faz jogar, e foi peça importante no eixo da sua formação. Especialmente porque Sotor parecia não estar em boa forma, e tardava em mostrar o seu melhor futebol. Lento e sem a energia de outros dias, deixou-se antecipar por várias vezes, perdeu algumas bolas fáceis e errou alguns passes capitais. Miguel percebeu essa incapacidade, e ocupou sem hesitação o lugar de Sotor, chamando a si a posse da bola e fazendo aquele último passe, sempre tão importante na manobra ofensiva de uma equipa que se quer ganhadora.Nessa altura, já Joel tinha reentrado em campo, ocupando a posição de central, e formando, com Ukraniano e Paulo, um trio defensivo como raramente se tinha visto no campeonato. Foram quase sempre irrepreensíveis na luta constante que mantiveram com os atacantes do MFC, impedindo inclusive que Aranhiço tivesse uma daquelas manhãs complicadas e em que, não raramente, brilha como só ele é capaz. Foram absolutamente esmagadores, e só conseguimos realçar a prestação de Paulo, pela muito simples razão de que era sempre pelo seu lado que o MFC desenhava as suas jogadas de ataque.Com uma tão sólida base de jogo, não foi difícil ao FB construir uma ampla vantagem de 6-3, resultado nada surpreendente – a não ser, talvez, por ser escasso - com que se haveria de chegar ao intervalo. A segunda parte, porém, haveria de ser bastante diferente. A entrada de Júlio – por troca com Finíssimo - e de “Brasileiro-Desconhecido” na formação do MFC, pode não ter resultado numa grande alteração táctica, mas a verdade é que os seus colegas começaram a trocar melhor a bola, compreenderam o que era necessário para compensar a estranha distância que Bruno mantinha da grande área adversária, e souberam aproveitar a total ausência de ideias que parecia afectar a frente de ataque do FB. E o último golo da equipa visitada acabaria por ser verdadeiramente o canto de cisne de uma formação que aparentemente não soube gerir o esforço, e que acabou o encontro absolutamente esgotada e desarticulada. Mas foi um belíssimo golo; dos mais bonitos marcados esta época. Aranhiço recebeu a bola de um atraso, chutou-a para frente de ataque, para Carlos, que inteligentemente a deixou bater duas vezes no chão para depois, e de primeira, a enviar para o fundo das redes adversárias. Dois toques, total efectividade. O público exultou o feito, mal sabendo que estava também a assistir ao último suspiro da sua equipa. De seguida só deu MFC. E não tivesse sido o constante e sobre-humano esforço do tal trio defensivo, agora com Joel também em plano de evidência, e o resultado final teria sido bem mais pesado para o FB. Huga já não parecia o jogador desanimado e sem inspiração, e usava agora de toda a sua energia para cativar os seus colegas e fazer com que eles jogassem mais e com mais intensidade do que haviam feito na primeira metade do jogo. Chica reaparecia também em jogo, controlando o jogo defensivo, e fazendo, como mais ninguém o sabe fazer – e aproveitando a súbita saída de Miguel, por lesão -, uma perfeita transição da defesa para o ataque, com passes certeiros e que desconcertavam os atacantes do FB, afinal, os seus primeiros defesas. Aranhiço, entretanto, fazia o que podia para atrapalhar os atacantes da equipa contrária, nomeadamente interceptando os centros para área em busca de Huga e de Golias. Sofreu mais um auto golo, desta feita um remate de Bruno que, reflectido pelo corpo de Ukraniano, haveria de enganar por completo o guardião brutense, e foi impotente perante os remates em posição frontal à sua baliza que resultaram no 8-8 final, e numa altura em que já nenhum jogador do FB tinha pernas para acompanhar a intensidade do jogo do MFC. E tínhamos então três jogadores que, do lado dos visitantes, faziam toda a diferença, já que João e Júlio, um tanto ao quanto afastados da sua melhor forma, pouco faziam para marcar a diferença. Por isso mesmo, a revolução na atitude do MFC merece ainda maior destaque; porque se deveu ao trabalho e ao esforço de metade da equipa, que liderada por Huga, se transfigurara por completo no balneário, saindo para a segunda parte do jogo com a vontade de vencer o jogo, e de continuar na senda de bons resultados que vem marcando as últimas jornadas. Antes do apito final, mais um lance de grande polémica e que, de uma forma ou de outra, acabou por manchar o trabalho do árbitro. Golias marca o oitavo golo da sua equipa, a bola é reposta ao meio campo, e enquanto os jogadores mânfios discutem quem vai ocupar a posição de guarda-redes, Carlos toca a bola para Joel que imediatamente a remata para a baliza contrária, fazendo um golo de belo efeito. Se é certo que o MFC não estava ainda pronto para reatar a partida, a verdade é que já estavam a levar longe de mais o tempo permitido pelo regulamento para se organizarem. Este facto tem especial realce, porque o mesmo já havia acontecido várias vezes durante o encontro, sem que o árbitro tomasse qualquer tipo de medida disciplinar. O golo haveria de ser anulado, apesar dos fortes protestos da equipa da casa e do seu público, e o jogo não duraria mais do que cinco minutos, sem hipóteses de golo de parte a parte, ou qualquer outro motivo de interesse para esta crónica. Terminava assim um dos jogos mais empolgantes e espectaculares da presente temporada. Golos, muitos e bonitos, emoção até ao final, casos, polémicas e intensidade quanto baste. A equipa da casa tem razões para se queixar do trabalho do trio de arbitragem, mas deve também olhar para alguns importantes defeitos que acabaram por influenciar o seu futebol e, consequentemente, o resultado final. Uma formação que conta com um trio de ataque tão forte, não pode cair na tentação de encurtar o caminho para a baliza adversária com passes bombeados e sem nexo. Tem, isso sim, a obrigação de jogar pelo chão, em passes rápidos, fazendo uso da sua elevada qualidade técnica e táctica. Uma palavra, mais uma vez, para o incrível e irrepreensível trabalho da defesa do FB e para a capacidade de reacção do MFC, os dois ingredientes que deram ao espectáculo tonalidades de pura magia. Aproxima-se portanto o último jogo de 2007, e todos os intervenientes – imprensa, público e os profissionais da bola – esperam que esse embate possa ser, no mínimo, tão espectacular quanto o do último fim-de-semana. E estão reunidas todas as condições para que tal venha a acontecer. Resta-nos aguardar.





E é com palavras de esperança por mais um belo espectáculo naquele que será o ultimo encontro do tão completo e polémico ano de 2007 que me despeço desejando a todos um santo natal e um auspicioso ano novo, com tudo de bom!

Continuação

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