Monday, March 03, 2008

 
“DESCULPE, PODIA REPETIR!?”

Sem dúvida a questão que todos os que não estiveram presentes no jogo de Sábado repetiram até à exaustão assim que souberam o resultado de mais um encontro entre Mânfios FC e Força Bruta. Porque já há muito anos não se via uma goleada desta dimensão, sendo necessário recuar até à temporada de 65-66 para recordar um resultado idêntico entre os dois arqui-inimigos – na altura um expressivo 9-2 para o MFC e que tornaria famosas as palavras do então treinador brutense, Óscar Piça, quando vociferou “havemos de nos vingar, caralho!” – isto, obviamente, no que diz respeito aos jogos no campo grande, já que a 21 de Janeiro último, o FB bateu o seu rival por uns claros 10-2 mas no campo pequeno.

Tardou a vingança, mas veio de forma justa e inquestionável, já que a diferença esmagadora entre as duas equipas foi notória. Ninguém presente no estádio – jogadores inclusive – ousou sequer questionar a vitória dos homens do FB, que ao marcarem dez golos e permitindo apenas um tento adversário, deram uma valente chapada na crise que se vinha instalando. Foi surpreendente, é um facto, mas completamente justo.

E não chega sequer a ser complicado explicar a razão que levou a uma tão monstruosa diferença. A simples inclusão de Tiago, regressado de um novo período de lesões, foi determinante para o triunfo brutense, e veio colmatar todas aquelas falhas clamorosas que vinham manietando o futebol do FB. O jogador maravilhou o público presente no estádio, e assinou uma das mais bem conseguidas actuações de entre todas as da presente temporada. Começou o encontro como centro campista, mas apercebendo-se da apatia dos jogadores manfiosos e da falta que fazia junto a Carlos, resolveu auxiliá-lo no ataque à baliza manfiosa, na tentativa de apressar o primeiro golo, que tardava a surgir. E o resultado foi quase imediato. Num canto bem marcado por Miguel, e depois de ter sido rematada por Sotor contra as pernas de um defesa, a bola foi novamente enviada para o miolo da área pelo veterano jogador. Tiago, oportuno, desviou o esférico com o calcanhar, introduzindo-o no fundo das redes defendidas por Rodrigues. Os jogadores manfiosos ainda conseguiram a dada altura reduzir o resultado para 1-2, mas a reacção foi sol de pouca dura, já que durante todo o encontro – e muito por responsabilidade da eficaz dupla de centrais brutenses - praticamente não efectuaram remates à baliza de Aranhiço. Quando o fizeram criaram perigo, mas o experiente guardião soube sempre e com segurança impedir que o pior acontecesse. Tiago, pelo seu lado, continuava a fazer o que queria da defesa contrária. De tal forma que, dos dez golos com que o FB terminou o jogo, marcou dois e fez a assistência para outros sete! Estava endiabrado o jovem avançado, e coadjuvado por Miguel dominou por completo o centro do terreno, ao mesmo tempo que era responsável por jogadas de belíssimo futebol. Numa delas os dois jogadores correram o campo de um lado ao outro com passes rasgados, de Tiago para Miguel, e de Miguel novamente para Tiago. Já na grande área, Miguel faria o último passe – um fantástico centro de trivela – para Tiago que, bem juntinho ao segundo poste, introduziria a bola pela segunda vez na baliza de Rodrigues. Sem exageros, poder-se-á dizer que Tiago foi deslumbrantemente efectivo, pontuando sempre as suas jogadas com uma beleza coreografada mas sem nunca perder o pragmatismo exigido.
Sotor, esse, voltou a desiludir, e fez o seu segundo jogo absolutamente desastroso do ano. Inexplicavelmente o experientíssimo jogador apresentou-se desconcentrado e desenquadrado das movimentações da sua equipa. Voltou a falhar por completo a sua função de primeiro defesa e foi permeável aos avanços adversários pelo seu lado do campo. Foi lento na resolução de situações nem sempre perigosas, indeciso no momento de fazer o primeiro passe – voltou a pecar pela constante procura de Carlos para receptor do esférico, mesmo em ocasiões em que outros colegas seus estavam em perfeitas condições para partirem para o ataque – e em consequência disso, perdeu uma quantidade inacreditável de bolas em zonas potencialmente letais. Felizmente a equipa estava à altura dos acontecimentos e soube colmatar a falta que Sotor poderia ter eventualmente feito. É conhecida a sua manha e experiência, e essas ferramentas são sempre úteis quando se defrontam equipas jovens como a do MFC. Aguarda-se um rápido regresso de Sotor à sua habitual forma. Os colegas agradecem e o público mais atento também.

Pelo lado dos manfiosos pouco ou nada há realmente a dizer. Sem se perceber bem porquê, os atletas do MFC foram exactamente o oposto do que costumam ser. Lentos, desorganizados e completamente inofensivos, não executaram uma única jogada do que se usa considerar futebol, não conseguiram defender os avançados brutenses em nenhuma ocasião, e esqueceram-se por completo daquele verdadeiro bombardeamento à baliza adversária que já se tornou na sua imagem de marca. Foram irreconhecíveis. A ter de escolher um jogador do MFC como sendo o… menos mau, esse teria de ser obrigatoriamente Murta; pelo que trabalhou na defesa, muitas das vezes totalmente abandonado pelos colegas, e pela garra e inconformismo que demonstrou sempre durante a partida. João marcou o golo de honra e desapareceu; Huga fez muito barulho, reclamou muito mas foi totalmente improdutivo, tendo inclusive permitido a defesa de um penalti – bem, Aranhiço -, e não foi nunca o líder inspirador dos dois últimos jogos; de resto, basta dizer que Chica não fez um único remate à baliza, que Golias atrapalhou mais do que ajudou, que Bruno e Barandas bem que podiam ter ficado em casa – teriam ajudado bem mais a sua equipa - e que Rodrigues nada podia fazer para impedir o rumo implacável dos acontecimentos. O MFC deixou uma triste e desoladora imagem de si, e embora tenha ficado a certeza de que foi só um acidente de percurso, e de que de facto não foi somente o fantástico desempenho de Tiago a impor tamanha desigualdade de valores, a verdade é que ficou também a imagem muito forte de um conjunto de jogadores que nem sempre conseguem conjugar a força física com a força anímica. Se por um lado já por várias vezes foram capazes de inverter o rumo dos acontecimentos e acabar os jogos na posição de vencedores, por outro demonstraram uma enorme falta de calma que originou inúmeras discussões entre colegas da mesma equipa.

Nesta altura do campeonato, e depois de duas fases tão distintas do mesmo – cada uma dominada por uma das duas equipas candidatas ao titulo -, seguidas por três jogos em que imperou o equilíbrio, convém fazer uma espécie de ponto de situação. Assim, parece-nos claro que o FB só conseguirá realmente fazer frente ao maior poderio físico e atlético dos jogadores do MFC se puder contar de forma mais constante com os préstimos de Joel e Tiago. Porque, por um lado, os dois gémeos têm a técnica necessária para executar com mais facilidade aquilo que tantas vezes condiciona o jogo ofensivo brutense: uma rápida transição da defesa para a frente do ataque. Por outro, porque Joel já provou ser o defesa que a dupla de centrais necessita para fazer da sua área um espaço intransponível. Os dois jogos em que se aplicou nas manobras mais recuadas da sua equipa, mostraram claramente a forma inegável como impõe a sua presença física no centro da área de Aranhiço, dando a calma de que Jorge e Paulo necessitam para se manterem nas laterais e poderem arriscar jogadas de contra-ataque. Aguarda-se também com ansiedade o regresso de Sotor ao seu nível habitual, já que o meio campo defensivo do FB carece de alguém que saiba fazer aquela falta no momento chave, ou o roubo de bola acutilante e venenoso. Sotor fazia-o como ninguém nesta liga, e o seu «desaparecimento» não só criou problemas à equipa, como deixou a defesa com trabalho redobrado.

Quanto ao MFC, até aqui e nas mais recentes jornadas, a equipa mais tranquila das duas que disputam o título, dele se espera que readquira a organização e disciplina que têm ficado bem patentes nos jogos desta segunda fase do campeonato. Jogadores como João e Huga, que surgiram novamente em plano de evidência, têm sido os dínamos que impulsionam o colectivo para a frente e que imprimem ao jogo da sua equipa uma velocidade e uma garra verdadeiramente assustadoras. Falta juntar-se a eles Chica, que depois de um início de época perfeitamente brilhante, se tem vindo a afundar, vítima de uma súbita quebra de qualidade. O jogador tem-se remetido cada vez mais a tarefas defensivas – onde se sai sempre muito bem -, mas é na frente do ataque que ele mais tem feito falta. Dono de um potente e temível remate, Chica tarda cada vez mais em colocá-lo em prática, contribuindo dessa forma, para que os golos do MFC surjam com mais frequência. É curioso pensar que até há bem pouco tempo, dois dos jogadores em melhor forma - e que disputavam inclusive o título de melhor jogador do ano - Chica e João, são neste momento dois dos que menos se destacam no campeonato.

Neste momento, a classificação do campeonato é a seguinte:

MFC – 15 vitórias, 5 derrotas e 3 empates, que perfazem 45 pontos e 121 golos marcados e 140 sofridos.

FB – 15 vitórias, 5 derrotas e 3 empates, perfazendo dessa forma os mesmos 45 pontos mas com 140 golos marcados e 121 sofridos.

Ou seja, o FB volta a ocupar a primeira posição do campeonato, pelo que muito se espera do embate da próxima semana, especialmente se tivermos em conta que Tiago, afectado por uma pequena lesão, e Chica, afastado da convocatória por motivos psicológicos, não poderão dar o seu contributo.

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