Tuesday, October 07, 2008

 
INEGÁVEL CONFIRMAÇÃO



O resultado do jogo do passado Sábado, quase escandaloso, reflecte algo de que já havíamos falado nestas crónicas semanais, e que começa a assumir decisivos contornos de importância: a experiência do FBFC.

A vitória por uns claríssimos 10-4 pode ser exagerada, mas é inequívoca da capacidade de saber dar a volta aos acontecimentos, e da maturidade demonstradas pela formação brutense. A perder por três golos sem resposta aos dez minutos de jogo, os brutenses souberam acalmar a ansiedade, reagrupar os seus jogadores, redesenhar a táctica, que obviamente não estava a resultar, e partir para uma pressão sufocante sobre os seus adversários, alterando o andamento do marcador de forma autoritária.

Por seu lado, a equipa manfiosa não merecia tão pesado resultado pelo simples facto de que não jogou mal. Pelo contrário, começou a partida de forma decidida, jogando um futebol acelerado, assente em rápidas trocas de bola e com uma forte predominância na lateral esquerda, em virtude do regresso de Barandas à equipa principal. Infelizmente, os jogadores manfiosos não foram capazes de manter esse nível até ao final da contenda. Não só pela impressionante mudança de atitude dos brutenses, como também porque se entusiasmaram com as aparentes facilidades concedidas pelos mesmos jogadores nos primeiros vinte minutos de jogo. Iludidos com a rapidez com que haviam marcado três golos, os jovens atletas do MFC incorreram em erros infantis, esquecendo-se do magnífico trabalho colectivo que vinham fazendo, e optando por jogadas individuais e pela procura insana de mais um golo. Erros destes pagam-se caro, especialmente quando perante uma equipa que já provou ser coesa e que já demonstrou vezes sem conta ser aguerrida e combativa o suficiente.

O MFC alinhou com João, Chica, Bruno, Huga, Barandas, Filipe e Murta, enquanto que o FB começou o jogo com Sotor, Carlos, Simão, Aranhiço, Paulo, George e a novidade, Leandro.

Como já aqui foi referido, os primeiros minutos de jogo mostraram duas equipas completamente distintas. Um MFC forte, esclarecido e consciente daquilo que estava a fazer, e um FB perdido no campo, perdido numa táctica incapaz, atabalhoado e que encaixava golos de forma consecutiva sem saber muito bem o que o tinha atropelado. Uma das principais razões para este desnorteio nasceu directamente da incapacidade de Sotor se fixar no meio campo. É um erro clássico do veterano capitão; inflamado pela vontade de literalmente ir a todas, Sotor corre o rectângulo quase todo, dando caça aos seus adversários, não percebendo, contudo, que isso lhe retira energia, e que essa táctica apenas permite a criação de imensos espaços vazios na sua defesa. Foi precisamente por esses espaços vazios que os primeiros golos manfiosos surgiram. O centro da defesa completamente desocupado, três remates cara a cara com Aranhiço, e o resultado facilmente a disparar para números que começavam a cheirar a polémica.

Ao reposicionamento de Sotor na posição em que mais rende, coadjuvado por um Leandro irrequieto e que soube na perfeição desempenhar o papel que normalmente cabe a Miguel – subindo sempre que necessário, e defendendo sempre que assim lhe era exigido -, somou-se outro pormenor que fez toda a diferença, e que baralhou por inteiro a defesa manfiosa: a subida total de Paulo, que deixou o sector mais recuado do campo, para ocupar toda a frente do ataque brutense. Paulo foi indiscutivelmente o melhor em campo; correu uma maratona, fez passes em profundidade, rematou à baliza, interrompeu jogadas perigosas de contra-ataque e assinou a sua melhor exibição de sempre com três golos verdadeiramente à ponta de lança. O excelente arranque de época do central goleador, está inegavelmente reflectido no facto (estranho) de ser o actual líder dos marcadores. Carlos e Simão limitaram-se a fazer o que habitualmente lhe é pedido, colocando constantemente os defesas adversários em sentido, marcando golos, rematando sempre que possível e sendo uma presença sempre perigosa na área contrária. Para além disso, souberam aliar-se ao esforço dos seus colegas e defenderam o meio campo e a entrada da sua área sempre com o melhor dos resultados. A Simão apenas se pode apontar um excessivo individualismo, já que voltou a exagerar nas fintas e a esquecer-se muitas vezes de fazer o último e decisivo passe. Ainda assim, os avançados brutenses fizeram um jogo completo, abnegado e generoso, e o seu esforço merece o justo destaque. George e Aranhiço foram o princípio da reviravolta no marcador. O guardião, porque defendeu tudo o que havia para defender – podia também ter sido considerado o melhor em campo – e o central romeno porque voltou a dar uma lição de bem defender, correndo até ao limite das suas forças, cortando passes e remates, e entregando-se practicamente sozinho à impermeabilidade da sua área.

Pelo lado manfioso, não há como não destacar a prestação perfeita de Murta. Perfeita! O jovem defesa, jogou bem em quase todas as posições, sendo que foi na baliza da sua equipa, que Murta mais brilhou. Durante cerca de vinte minutos, período em que o FB renasceu para o jogo, e empurrou contra as cordas a formação manfiosa, Murta foi o único a conseguir impedir que uma chuva de remates morresse nas suas redes. Defendeu como e enquanto pôde o resultado vantajoso de 3-0, e foi muitas das vezes o único obstáculo à frente dos atacantes brutenses. De resto, todos os jogadores do MFC têm a sua exibição condicionada por esses vinte minutos da mais profunda inércia e inaptidão. Arrogantes, convencidos da sua supremacia, não quiseram ouvir os avisos de João, e deram o encontro por vencido. Com o esférico repousado na marca do meio campo logo após a marcação do terceiro golo manfioso, João fez questão de avisar os seus colegas da necessidade de recuar no terreno e de defender o resultado com outra atitude e cautela. Ninguém lhe deu ouvidos. De todos, apenas Chica, Murta e o próprio João, souberam jogar com cabeça, não correndo desenfreadamente para o ataque e nem procurando a vitória rápida e aparentemente fácil. Sacrificaram-se perante a desorganização táctica de Huga, Bruno, Barandas e Filipe, e remeteram-se quase totalmente à defesa, aguentando conforme podiam a avalanche ofensiva do FB.
Chica continua a desapontar. Não remata, raramente ultrapassa a linha do meio campo, e pouco ou nada tem feito como trinco. Parece denunciar a falta de Golias, com quem habitualmente compõe uma das duplas mais temíveis do campeonato. João também não começou a época da melhor forma. Visivelmente mais lento do que na época passada, o poderoso jogador tem optado pelo sector mais recuado do campo, rematando muito menos do que seria esperado, e não contribuindo da mesma forma para a reconhecida armada do MFC. Barandas retomou o campeonato da pior forma possível. Apesar do golo obtido, o regressado lateral embrulhou-se demasiadas vezes com a bola, atrasou jogadas de ataque, precipitou-se nas decisões e acabou por ser um dos mais trapalhões da sua equipa. Huga quase não se viu em campo. Cansado, atabalhoado, conflituoso, baixou drasticamente o nível que vinha demonstrando, e foi um dos principais responsáveis pelo desaire da formação visitante. O que Bruno fez não merece sequer espaço de crónica, e Filipe, embora tenha demonstrado uma enorme força de vontade, pouco ou nada trouxe de efectivo às manobras ofensivas ou defensivas da sua formação.

Em suma, a mudança observada em ambas as equipas em determinada altura do jogo foi, não só anormal, como determinante para o desenrolar da partida e para o desiquilibrado resultado final. Depois de um auspicioso início, o MFC deixou o FB assumir as despesas do jogo, e ficou a impressão de que o resultado poderia ter sido ainda mais descabido, não fosse algum desacerto dos atacantes brutenses assim como o esforço sobre humano de Murta. Aranhiço foi um mero espectador durante demasiados minutos, devido à incapacidade desconcertante dos jogadores manfiosos em criarem jogadas de perigo ou de sequer rematarem à baliza. Este desequilíbrio catribui justiça à vitória brutense, embora não confira verdade à escandalosa goleada. Apesar de não o fazer da melhor maneira, o MFC tentou sempre combater o rumo dos acontecimentos. No entanto, desespero e precipitação nunca são as melhores armas, muito menos se tivermos em conta de que o inimigo pode ser bem mais experiente e maduro. Foi esse o caso.

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