Saturday, July 05, 2008

 
INJUSTO E EMOTIVO

O jogo do último Sábado não merece papas na língua: foi um grande encontro de futebol, bem jogado, emotivo, intenso e repleto de belos momentos. Com ambas as equipas na sua máxima força – tendo em conta os jogadores disponíveis -, o embate entre os dois colossos do campeonato deixou definitivamente a certeza da incerteza desta recta final. A jogar assim qualquer um dos conjuntos pode levar para casa o campeonato, sem surpresa e com inteira justiça.

Chica, Golias, Murta, Nunes, Finíssimo, João e os regressados Huga e Chossas, e Sotor, Carlos, Aranhiço, Paulo, Ukraniano, Bruno e Rui e Nuno – jogadores da equipa B convocados à última da hora – deram um espectáculo memorável de futebol, e assinaram mais uma página de intensidade desportiva (às vezes mais do que isso) que deixou público e críticos perfeitamente satisfeitos.

O jogo começou mais uma vez a todo o gás, com o MFC a pressionar desde o primeiro toque no esférico a baliza à guarda de Aranhiço. Durante largos minutos os remates vinham quase exclusivamente dos pés dos avançados manfiosos, que encontravam sempre pela frente um guardião que se assume cada vez mais como o melhor guarda-redes da liga. Neste particular será obrigatório referir a excelente prestação de Finíssimo, sempre activo, pressionando constantemente a defesa adversária, e aproveitando cada milímetro de espaço concedido para rematar à baliza. Finíssimo acabaria por assinar dois golos, mas mais importante do que isso, foi o jogador que mais motivou a sua equipa e que desde logo mostrou como iria ser o jogo manfioso. Foi a sua melhor exibição desde que entrou para o campeonato, sem margem para dúvidas.

Um pouco contra a corrente do jogo, haveria de ser o FB a inaugurar o marcador. Em poucos minutos a equipa conseguiu libertar-se do ambiente sufocante criado pelos atacantes manfiosos – por vezes 4 e 5 em cada avançada – e, com a mesma calma demonstrada no jogo da semana anterior, chegar ao primeiro tento. E a batalha ganhava novo alento. A partir daí o jogo subiu de intensidade, tornou-se ainda mais emotivo e a guerra a meio campo tornou-se dura e aguerrida. Nesse ponto é absolutamente obrigatório destacar o papel de Sotor. Ainda a recuperar de uma lesão, o veterano capitão começou o jogo cautelosamente, defendendo-se de uma possível recaída. Aos poucos, e em virtude do jogo atacante do MFC, Sotor começou a lutar por cada uma das bolas que assomavam a sua área de jurisdição; correu, empurrou, aguentou as cargas adversárias, participou activamente no ataque à baliza manfiosa, marcou e deu a marcar. Em suma, e depois de uma época feita de altos e baixos, Sotor voltou a ser o jogador influente e dinamizador por quem se espera, foi um dos melhores em campo, indiscutivelmente, e deu a entender que a lesão que o apoquentou por algumas semanas, não só já faz parte do passado, como serviu para que renascesse das cinzas para uma recta final do campeonato que se espera fantástica.

De resto, quase todos os jogadores da equipa brutense estiveram em bom plano de evidência. Bruno foi o melhor em campo de todos os atletas que disputaram o jogo de sábado. Marcou quatro golos espectaculares, correu quilómetros, defendeu como nunca até então e foi o principal pulmão de uma equipa que demonstrou sempre mais vontade de vencer. Carlos entendeu o excelente momento de forma do seu jovem companheiro e decidiu, e bem, coadjuvá-lo e não lutar com ele pelo maior número de golos. Recuou um pouco no terreno e abriu espaços na defesa contrária, sempre bem aproveitados por Bruno. Rui, jogador chamado à equipa B, demonstrou sempre vontade de lutar por mais uma posse de bola e foi também importante no apoio ao jogo do seu mais jovem companheiro. Trouxe algum perigo ao jogo atacante da sua equipa, ganhou muitas segundas bolas à saída da defesa manfiosa, mas acabou por se eclipsar um bocadinho à medida que o jogo se aproximou do seu fim. Nuno, outro jogador repescado da segunda equipa brutense começou o jogo da pior forma. Assumiu o vértice central da defesa e estava a dar boa conta dos acontecimentos quando uma forte indisposição o atirou para fora das quatro linhas para ser assistido. Os largos minutos que esteve impossibilitado de regressar à partida, representaram um agravar das dificuldades do FB em segurar os ataques manfiosos. Regressado ao jogo e à posição que havia assumido, Nuno foi quase intransponível, interceptando um sem número de bolas ao meio campo, lutando contra quase todos os adversários e funcionando um pouco como o braço direito de Sotor. A dupla improvisada funcionou na perfeição, e deu muito trabalho ao ataque do MFC. Paulo foi o responsável pela recuperação da sua equipa. Quando o FB perdia por uns claros 6-2, foi ele que, percorrendo sozinho todo o corredor esquerdo do rectângulo de jogo, contribuiu decisivamente para os quatro golos consecutivos que resultariam no empate que relançava a partida. Infelizmente Paulo perdeu a noção da sua responsabilidade no sector mais recuado do campo, e foi precisamente pelo seu lado que os jogadores manfiosos, aproveitando a sua ausência, marcaram dois golos que voltaram a desequilibrar as contas no marcador. Paulo é um jogador fantástico, sempre empolgante e capaz do melhor e do pior. O melhor vem ao de cima sempre e quando o jogador está altamente motivado; o pior, sempre que o potente central se desmotiva e deixa de acreditar no jogo da sua equipa. Foi assim no sábado, e foi dos seus pés que veio precisamente o céu e o inferno da equipa brutense. George esteve, como já é habitual, à altura dos acontecimentos. O jogador mais constante do campeonato mantém a tendência em falhar pouco, em jogar sempre pelo seguro e a não complicar a defesa, tornando muitas vezes fácil a resolução de situações complicadas. Jogou sempre bem, mas foi incapaz de, sozinho na área brutense, compensar a falha do seu colega, sempre longe de mais para se tornar útil. A responsabilidade da derrota não pode de forma alguma ser atribuída a George, pese embora um ou outro erro de marcação a Finíssimo. Aranhiço voltou a ser enorme entre os postes. Teve uma manhã de muito trabalho, já que a facilidade de remate dos seus adversários continua a ser demasiado intensa mesmo para a boa defesa brutense. É que apesar do bom trabalho de Sotor, Nuno e George, os jovens jogadores do MFC rematam bem de qualquer parte do campo, da mesma forma que conseguem com relativa facilidade aparecer isolados frente a frente com os guarda-redes contrários. Aranhiço só não é o homem do jogo porque teve dois colegas de equipa a um nível acima do normal, Bruno e Sotor. No entanto, no melhor pano cai a nódoa, e o veterano guardião não está isento de culpas em três dos golos sofridos. O primeiro, um remate fraco de Finíssimo e no qual Aranhiço fez valer e mal o seu golpe de vista. O segundo, um lance caricato em que o jogador saiu a uma bola comprida de Huga na tentativa de a interceptar. Sem se perceber muito bom como, Aranhiço tropeço na bola que ficou por sua vez presa ao pé de Huga que, sem hesitar, a rematou para o fundo da baliza. O último lance, coincidiu precisamente com o último golo, o da vitória, da equipa manfiosa. Um canto directo de João que apanhou Aranhiço mal colocado entre os postes. O guarda-redes ainda tocou na bola, mas o suficiente para impedir que ela entrasse ao segundo poste e depois de Paulo também não conseguir a intercepção. O esférico ainda embateu na perna do central, mas o golo era já uma realidade.

Do lado dos manfiosos, Nunes e Finíssimo estiveram em evidente plano de destaque. Foram os jogadores mais inconformados com o resultado, mesmo quando estavam em vantagem, e aqueles que por mais vezes arriscaram o remate. Nunes partiu a defesa brutense por diversas vezes, abrindo espaços para a entrada dos seus colegas de ataque. Jogou bem com Finíssimo e com João, sempre o terceiro homem a avançar para lá da linha do meio campo. Juntos deram muitas dores de cabeça à defesa do FB que se não tivesse contado com um inspiradíssimo Sotor, com a revelação Nuno e com o sempre seguro George, teria claudicado bem mais cedo. Por outro lado, e com a justa excepção de Murta, o meio campo manfioso não esteve ao nível que lhe é habitual. Chica andou grande parte do jogo ausente das manobras ofensivas, e já não marca um golo há uma eternidade. Huga passou quase despercebido pela partida e Golias, remetido a manobras mais defensivas, lutou muito pela posse da bola e pela manutenção do meio campo, mas foi pouco produtivo nas jogadas ofensivas. Murta, esse, fez um enorme jogo de combate. Guerreiro como poucos nesta liga, o jovem central compensa a falta de poder físico com uma atitude aguerrida e corajosa. Nunca desiste de um lance e para ele a bola está sempre em jogo, não permitindo aos seus adversários um milímetro de terreno conquistado facilmente. Chossas regressado de um longo período de ausência acusou a falta de ritmo e de resistência física. Jogou a maior parte do tempo à baliza, onde não fez, aliás má figura. Nas raras oportunidades em que se chegou à área adversária, enviou com estrondo uma bola ao poste, naquele que seria o seu segundo e último tiro à baliza de Aranhiço. Espera-se mais, muito mais de Chossas, que necessita urgentemente de readquirir a forma física perdida, e o ritmo de jogo intenso e rápido que tão bem o caracterizam.

No geral, é evidente que a melhor equipa em campo foi o FB. Os melhores golos, as melhores jogadas, enfim, o melhor futebol, saíram dos pés dos seus jogadores, que demonstraram sempre melhor colectivo, maior vontade de vencer e uma inegável qualidade no desenho das jogadas, no passe e na criatividade. Não tiveram a sorte necessária, no entanto, para levar de vencida uma equipa que sem deslumbrar, apostando, e bem, no erro adversário e contando com essa tal pontinha de sorte que muitas vezes define um campeão, manteve-se sempre na dianteira do marcador e controlou o rumo dos acontecimentos com aparente tranquilidade. Mas as vitórias não podem ser feitas apenas com estes ingredientes. O futebol solto, imaginativo e belo do FB merecia um resultado à altura, e esse resultado era a vitória. Nem mais, nem menos.

This page is powered by Blogger. Isn't yours?