Monday, April 28, 2008

 
EFICÁCIA LETAL


O regresso do Inverno ao campeonato faz-se sentir através do também retorno ao campo mais pequeno, às equipas mais reduzidas e a um estilo de jogo totalmente diferente do habitual. A rapidez e a facilidade com que se conseguem oportunidades de golo, transforma o futebol mais paciente e elaborado de um campo convencional num jogo de constante ataque e defesa, uma alucinação vertiginosa de ritmo avassalador e sufocante, impróprio para cardíacos.

O resultado final do jogo do último sábado, 14-6, espelha enganadoramente um desequilíbrio que na realidade não existiu. O que existiu, isso sim, e foi factor de desnível entre as duas formações, foi um maior acerto no momento de rematar à baliza. É verdade que houve uma formação claramente superior à outra, mas também não é menos verdade que, contas feitas às oportunidades claras de golo tanto Mânfios como Brutenses foram igualmente perigosos. A diferença, essa, esteve na qualidade da defesa brutense, praticamente impenetrável e igualmente perigosa no momento de partir para o ataque. Jogando com Golias, Carlos, Nunes, Simão e Aranhiço, a formação do FB parecia claramente em desvantagem, perante um adversário teoricamente mais veloz e venenoso. Chica, Huga, João, Bruno e Murta têm apresentado uma qualidade colectiva acima do normal, mesmo que algum dos seus jogadores, numa ou outra ocasião, se mostrem menos inspirados. A essa rapidez e bom entendimento somava-se o facto indesmentível de a formação de Aranhiço alinhar com dois elementos pouco habituados ao seu esquema de jogo, conjugação de factores que deixava antever uma vitória tranquila para os do MFC.

Tal não sucedeu. Ao início de partida a um ritmo sónico dos manfiosos, respondeu desde logo a segurança de uma defesa composta por nada mais do que três elementos de potente porte físico, que num ápice, e sempre que era necessário, sabiam fazer chegar a bola à área adversária. Jogando com Simão mais perto do guarda-redes, o FB tinha em Carlos o maestro que recuado, organizava todo o futebol da sua equipa. Pausadamente, trocando bem a bola, os brutenses lá se foram abeirando do sector mais recuado do adversário e, com uma calma e naturalidade surpreendentes mesmo para este campeonato, chegaram ao golo inaugural. O que se sucedeu a seguir foi estranho e mesmo cómico. Num regime de parada, resposta, a equipa manfiosa conseguiu quatro golos no mínimo peculiares. O primeiro, um remate potente de Bruno que Aranhiço defendeu levando a bola a embater com estrondo na barra da sua baliza, chocando novamente com o braço do guardião para repousar por fim nas suas redes. O segundo, um novo remate, desta feita de Huga que, reflectido pelas pernas de Carlos, enganou o veterano guarda-redes. O terceiro, um lance muito parecido, resultou de novo remate, agora de Chica, que ressaltando das pernas de Nunes não deixou qualquer hipótese de defesa. A terminar esta série de golos estranhos, um atraso mal calculado de Carlos que, interceptado por Bruno, deixou Aranhiço preso ao chão, incapaz de dar a resposta mais conveniente.

Apesar disso, a equipa brutense continuava a ser mais forte, e a diferença fazia-se notar na inacreditável facilidade com que se abeirava da baliza contrária e, acima de tudo, na liberdade com que trocava a bola sem qualquer oposição manfiosa. Essa facilidade traduziu-se nos golos que fizeram disparar o marcador, e que num ápice colocaram a equipa do MFC a uma distância praticamente impossível de reduzir. E não por falta de esforço manfioso. Apesar do desiquilibrado resultado, os seus jogadores foram sempre dignos adversários, nunca desistindo da luta e procurando sempre mais um golo que os fizesse continuar a acreditar na reviravolta. Chocaram com a boa organização defensiva brutense, e com o esforço colectivo de uma equipa que defendeu e atacou sempre em bloco; nesse aspecto residiu a vantagem da formação que conquistaria o jogo com justiça. Convém no entanto dizer que não deve ser fácil perder um jogo assim. O esforço constante dos atletas do MFC merecia ser melhor recompensado, e por isso mesmo, e apesar do pesado desaire, saíram de campo sob uma chuva de justificados aplausos.

Num jogo destas características, é difícil destacar um ou outro jogador pelo seu bom desempenho. Regra geral as equipas são obrigadas a jogar um futebol pleno de colectividade, e raramente um jogador marca a sua participação de forma realmente negativa. Neste jogo, porém, a regra foi ultrapassada por um jogador que claramente esteve uns furos acima de todos os restantes. Simão, normalmente intermitente no que aos jogos no campo grande diz respeito, fez um jogo absolutamente fenomenal. Marcou mais de metade dos golos da sua equipa, defendeu, distribuiu jogo e assinou uma mão cheia de jogadas de fino recorte. Numa delas chegou mesmo a marcar aquele que foi o golo mais bonito de toda a partida. Solicitado na frente de ataque por Nunes – excelente o passe em profundidade -, fez uma diagonal perfeita e cabeceou o esférico em arco numa diagonal oposta à sua, encaixando-o no ângulo mais distante da baliza na altura defendida por Chica. Simão fez o melhor jogo da sua época, e assinalou uma das melhores exibições individuais do ano.

Em suma, e apesar das particularidades inerente ao estilo de um jogo com equipas de cinco jogadores, assistiu-se a um bom espectáculo, emotivo e competitivo, pese embora a diferença de golos marcados. Essa mesma diferença, como já foi referido, resultou de um ou outro pormenor que o MFC não soube ou não conseguiu resolver.
O campeonato volta a conquistar interesse, e a próxima jornada, novamente no campo grande, servirá para provar se o FB está de novo na corrida ou se ao invés tudo isto não passou de um mero acaso.

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