Friday, October 03, 2008

 
nuno to me
show details Sep 17 Reply


O jogo de Sábado passado foi tipicamente atípico, e esta não é meramente a utilização desavergonhada de um jogo de palavras feliz; o primeiro jogo de um campeonato de futebol é sempre atípico, tendo em conta o que as duas equipas em questão são capazes de fazer. Tal facto apresenta-se como sendo típico disso mesmo: o jogo inaugural de mais um campeonato.

O embate serviu precisamente para comprovar e desmentir duas das previsões lançadas por este escriba na última crónica. Por um lado, a equipa do MFC demonstrou realmente que era capaz de começar a época na mesma boa forma com que terminou a anterior. Por outro lado, Sotor desmentiu todos os relatórios do departamento médico brutense, e foi um dos melhores elementos da sua equipa.

Posto isto, convém começar por dizer que o problema das ausências de alguns jogadores importantes mantém-se para já como uma infeliz certeza. Carlos, Miguel e César, pelo FB, e Golias, Filipe e Chossas, pelos do MFC, não foram sequer convocados, e tal contribuiu também para que o jogo não tivesse a qualidade de tantos outros embates – mesmo sendo, mais uma vez, o jogo de arranque.
As equipas não estiveram tão concentradas nem tão criativas como o habitual, e nem sempre o futebol visto no campo foi dos mais bonitos. Dessa forma, o FB perdeu-se em jogadas demasiado individualistas, comprometendo uma mão cheia de boas oportunidades de golo, enquanto que o MFC, em virtude de uma melhor preparação física, soube tirar partido da juventude dos seus jogadores, e do bom entrosamento de que gozam, para contrariar um certo desnorte táctico.

Jogaram pelo FB Tiago, Aranhiço, Paulo, Ukraniano, Sotor e Simão, e pelo MFC Chica, Huga, Bruno, Rodrigues, João e Murta. Tiago regressou para dar consistência ao futebol ofensivo brutense, pleno de bons passes, boa visão de jogo e oportunismo, e recheado de magia objectiva. O jovem jogador demonstrou, contudo, não estar ainda na sua melhor forma física, e cedo começou a denotar algum cansaço. Ainda assim, foi um dos melhores em campo, apontou dois bons golos, e foi sempre o jogador mais perigoso e esclarecido. Começou a partida com demasiada ânsia de regressar e correu o campo todo, ajudando ainda a sua equipa no sector mais recuado. Quando começou a acusar o esforço, remeteu-se ao ataque, fixou uma posição perto da área adversária e continuou a produzir lances de bom futebol.
Aranhiço, por sua vez, não podia ter começado o campeonato de pior forma. O segundo golo do MFC é um frango como já há muito não se via, e só aconteceu porque o veterano guarda-redes assim o decidiu inventar. Um remate à toa de Murta, sem intenção sequer de se tornar golo, e as mãos de Aranhiço moles de mais para suster a bola que passou pelo meio das pernas direitinha ao fundo das redes. Aranhiço ainda tentou compensar o lance infeliz com três excelentes defesas, mas a imagem deixada já estava arruinada, e pese embora não tenha sido sua a responsabilidade do resultado final, a verdade é que o melhor guardião do campeonato também não demonstrou ainda estar na sua mais eficaz forma.
Simão foi uma dos principais responsáveis pela derrota da sua equipa. Sozinho, desperdiçou ou arruinou inúmeras jogadas de golo fácil, em virtude da incapacidade que demonstrou em jogar com os colegas de equipa. Faz sempre uma finta a mais, tenta sempre o remate, seja em que circunstância for, e deixa os restantes brutenses e respectiva massa associativa à beira de um ataque de nervos.
Paulo e Ukraniano também não começaram a luta por mais um título da melhor forma. Mais lentos do que é costume, os centrais do FB decidiram arriscar e subiram muito no terreno, tentando imiscuir-se nas manobras ofensivas da sua equipa. A falta de Carlos pode ter provocado esta decisão, mas os resultados foram absoluta e inequivocamente desastrosos. Dos sete golos apontados pelo MFC, só dois não nasceram de lances de contra ataque rápidos e certeiros. Os dois defesas não tinham velocidade para acompanhar os atacantes contrários, e várias foram as vezes em que Aranhiço se viu cara a cara com um ou dois adversários. Espera-se muito mais destes dois jogadores.
Sotor pura e simplesmente deslumbrou. Durante largos minutos foi mesmo o melhor brutense em campo, e precisamente – e também por isso mesmo – por se ter ocupado daquela função de que nem todos os jogadores gostam, e que só alguns conseguem desempenhar: o jogo duro. Sotor fez do meio campo a sua fortaleza e lutou por ela com unhas e dentes; fez faltas, puxou, agarrou, colou-se aos jogadores manfiosos e em suma não fez mais do que atrapalhar o seu jogo ofensivo. Durante esses largos minutos, a equipa do FB recuperou de um 2-1 que lhe era desfavorável e colocou-se em vantagem no marcador por 4-2. Infelizmente, Sotor também se ressentiu de algum cansaço, e durante outros tantos minutos andou um tanto ao quanto desaparecido do encontro. Foi precisamente nessa fase que o MFC, sentindo que tinha novamente espaço e paz para desenhar as suas jogadas, voltou à carga e se colocou novamente na posição de vencedor. Sotor foi enorme; marcou um golo e correu quilómetros, e atazanou verdadeiramente a paciência dos seus jovens oponentes.

Pelo lado manfioso, imperou o colectivo. A arma mais forte da equipa foi mesmo o entrosamento demonstrado, já que individualmente as coisas também não correram da melhor forma. João andou um tanto ao quanto afastado das grandes decisões da equipa. Foi de longe o mais rematador, mas apontou apenas um tento, pelo que o índice de pontaria de modo algum o favorece. Não defendeu tão bem quanto costuma fazer, e participou pouco na transição da defesa para o ataque, detalhe em que é habitualmente exímio. Chica denotou também alguma desconcentração, e embora tenha estado bem no sector mais recuado, não contribuiu da melhor maneira para os lances de ataque à baliza de Aranhiço, tendo estado manifestamente mal nos remates. Bruno esteve particularmente activo a meio campo, mas nem sempre soube fazer as melhores opções, desperdiçando algumas boas oportunidades de golo. A meio do jogo, apoquentado por uma lesão, retirou-se por alguns minutos, mas sem que isso prejudicasse os seus colegas, tendo regressado para os minutos finais do embate. Rodrigues voltou em aparente boa forma, fez um punhado de boas defesas e deu razão aos críticos, quando estes afirmam que a equipa sem ele fica notoriamente mais debilitada. Murta foi o trabalhador de serviço, correndo, saltando e defendendo com tudo quanto tinha. Foi o motor da equipa, motivando sempre os seus colegas e empurrando-os constantemente para a frente. Foi incontestavelmente o líder em campo. E depois Huga. O jogador, que tinha acabado a época anterior de forma algo apagada e até ausente, regressou a todo o gás e fez um jogo irrepreensível. Encheu o campo com a sua classe, fez jogadas de magia, distribuiu jogo, isolou colegas, deu golos a marcar e apontou ele próprio quatro dos sete tentos da equipa. Foi sem margem para dúvidas o melhor em campo, e o principal responsável pela primeira vitória manfiosa no campeonato.

Em suma, qualquer um dos conjuntos poderia ter saído do campo com a vitória nas mãos. Ambos jogaram para ganhar, embora nem sempre da melhor forma, e só pequenos detalhes fizeram, no final, a diferença real. Quando o marcador acusava 6-6, e faltavam poucos minutos para o término do encontro, foram os brutenses a pegar nos comandos e a dispor das melhores oportunidades de marcar o golo final. Num desses lances, Sotor falhou um golo incrível, a sua equipa não conseguiu reagir e recuperar, e não ofereceu qualquer resistência à rápida jogada de contra ataque manfiosa que, culminada por Huga, haveria de sentenciar a partida. Ironias inerentes ao próprio jogo e que fazem deste magnífico desporto um acontecimento muitas vezes impróprias para cardíacos.

Comments: Post a Comment



<< Home

This page is powered by Blogger. Isn't yours?